O curso livre Arquitetura Paulistana, organizado por Marco Artigas, levou os alunos para conhecerem o projeto da Passarela do Aeroporto de Congonhas, projetada pelo Estúdio Artigas em parceria com o escritório H2C Arquitetura. Iniciado em 2014, o projeto levou quatro anos para ser concluído e contou com a participação do Nitsche Arquitetos, responsáveis pela comunicação visual do empreendimento.
Saiba mais sobre o projeto da Passarela do Aeroporto de Congonhas, tema da aula de número 58 do curso Arquitetura Paulista, nos vídeos e no texto a seguir, fornecidos pelos organizadores.
O protagonista no desenvolvimento da cidade de São Paulo, historicamente, foi o automóvel. Os grandes planos urbanos que estudamos nas escolas e universidades vinculam o progresso, o crescimento, a modernidade com a imagem do transporte individual motorizado. Dentro desse contexto surgem os diversos movimentos sociais que lutam pela inversão de prioridade na hora de desenhar as cidades. Seu principal objetivo é a inversão da pirâmide da mobilidade urbana. (Para elucidar: a pirâmide tem que que ficar de cabeça para baixo, pois o pedestre é a prioridade).
Foi justamente um movimento organizado pela sociedade civil que conquistou, na década de 70, a construção de diversas passarelas urbanas na cidade de São Paulo. Estudantes da Fundação Getúlio Vargas manifestaram o descontentamento em relação à grande quantidade de atropelamentos na Avenida Nove de Julho. E a vitória foi da sociedade civil. A EMURB contratou o escritório de Vilanova Artigas para desenvolver projeto para quatro passarelas na cidade de São Paulo. Uma delas era a Passarela do Aeroporto de Congonhas, sobre o principal eixo norte sul da capital, na atual Avenida Washington Luís, uma das grandes portas de entrada da cidade de São Paulo.
O projeto de Artigas foi pensado em estrutura mista: pilares e escadas em concreto armado aparente e viga metálica para transpor a largura da avenida. Essa técnica foi usada para todas as passarelas projetadas pelo arquiteto. Enquanto os pilares e escadas eram construídos in loco as vigas metálicas eram produzidas fora e, quando prontas, eram simplesmente apoiadas nos pilares, em uma ou duas madrugadas. Essa estratégia reduzia o impacto no trânsito e mostrava um grande desenvolvimento da tecnologia para estrutura de passarelas urbanas.
Passaram-se décadas até a sociedade civil se organizar novamente com o objetivo de fazer melhorias na passarela. A Associação dos Amigos da Passarela (ASPA) foi criada com esse fim, visto que a falta de manutenção tornou a estrutura desenhada por Artigas um risco para a população.
Em 2014 os escritórios H2C Arquitetura e Estúdio Artigas se uniram para tirar o projeto do papel e por fim conseguir, junto com a ASPA, realizar a doação do projeto para a cidade de São Paulo. Entre reuniões com os diversos órgãos públicos municipais e patrocinadores, foram angariados os fundos para a execução do projeto.
O desenho da nova passarela teve como ponto de partida a leitura das necessidades de uma sociedade contemporânea e as suas relações com um projeto de um grande arquiteto brasileiro.
O conceito do desenho original da década de 70 foi mantido. A estrutura continua mista (concreto e metálica) e a interferência da obra no cotidiano da cidade foi mínima. A nova passarela foi instalada durante os intervalos de tempo franqueados em duas madrugadas. Enquanto a nova estrutura metálica estava sendo desenvolvida na cidade de Pindamonhangaba, os pilares e as escadas em concreto armado existentes foram restaurados, recuperando a sua característica original de concreto aparente.
* Texto fornecido pelos arquitetos.